Quando Camarupa, a deusa, em seu altar
Atravessa, leve e grave, o ar,
Do véu as pregas juntando, desfazendo,
Com a mudança das formas se alegrando,
Parando, rígida, qual fumo se esfumando,
Não crê um homem no que os olhos estão vendo.
Já a força se agita que é capaz
De ao que é informe forma dar, e faz
Nascer no ar um leão, um elefante,
Do camelo sai dragão flamejante,
Chega um exército, mas não logo a vitória,
Na alta escarpa tem fim sua glória;
Já o fiel arauto da nuvem se dissipa,
Seu fito é o horizonte, mas aqui abdica.
Mas ele, Howard, homem clarividente,
Com a sua doutrina ensinou toda a gente.
O que o céu não retém e o sentido não vê,
Ele primeiro o fixa, e enfim o lê;
Dá forma ao informe, seu domínio estreita,
Com o nome certo - honra lhe seja feita! -
A nuvem sobe, adensa, esgarça, desce,
E o mundo pensa em ti e agradece.
Johann Wolfgang Goethe, “O jogo das nuvens”, Tradução de João Barrento, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003
No corpo de trabalho apresentado pode apreender-se quatro momentos onde se procura abordar a relação entre a observação e a contemplação, a reflexão e a imaginação, entre o distinguir e o juntar, o relativo e o absoluto, o particular e o universal, e a incrível capacidade humana para reconhecer formas.
Compreendendo a relação entre o informe e a forma, entre aquilo que pode ser visto e a visão, reconheço a minha exigência urgente de dominar e controlar esse informe por meio da produção de formas.
As obras apresentadas fundamentam-se no princípio da intuição como programa, onde se perscruta respostas onde residiriam enigmas, lugares comuns e tabus: o gesto, a forma, a superfície, o objeto.
Mariana dias Coutinho, Janeiro 2016
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